Estou sentada à beira do cais a espera da calmaria, dos barcos à vela. Meus pés pedem para tocar devagar um pedaço qualquer do mar que veio em sonhos me devorar noite outra. Tenho receio que ele venha a me engolir de novo. Estou pedindo permissão para entrar mais devagar. Só com a pontinha dos pés. Espero que ele entenda esse meu novo jeito de tentar me possuir. Mais leve, serena, como a brisa que agora mesmo toca a minha face por descuido. Um mero acaso dos ventos em desvio de rotas. À beira do cais, ainda desconheço meu destino ou se há algum a não ser ficar com as pontas dos dedos tocando suavemente a superfície em contemplação. Acho que estou em oração a espera da canção de alívio, de notícia boa. Espero que ela venha colorida embalada nesse balanço calmo do mar. Agora. Filme preto e branco só é bom em novela antiga. Ou num domingo.