
Um estado melancólico
Destroçando os ossos
Latejando a alma
Coração pedido calma
Lamparinas de noites sem luz
Queimando a garganta
Confundindo com angústia
Lembro-me da cruz
Rezo um Pai Nosso de joelhos e não passa
Não cessa
Deus está aí?
Nada demais acontecendo,
Mentira
Um monte de coisas
Mas é a vida
Já acostumei com ela
Peço uns pequenos milagres e ficaria tudo bem
Por um tempo ao menos
Lembro de me agradecer pelo milagre do dia 28/06
Obrigada Pai
Não passa o bolo no estômago
Comida estragada?
Não sei se é sazonal, algo a ver com o clima, seco, sem graça, sem flores
Minto novamente
Belo Horizonte está cheinha de flores em meio às avenidas
Ipês roxos…
eh, pois eh!
Minha cor preferida não tem me alegrado como antes
Tô assim meio sem graça, meio borocoxo, meio perdida
Preciso mesmo de um pequeno milagre
Ou algumas pequenas loucuras
Ando sóbria demais
Pai! Sabes do que falo
Sabes tanto que acho que anda me pegando no colo
Fora isso será menopausa?
Coisa de outono
Quem sabe?
Pausa, tempo, intervalo
É isso
Está faltando movimento
Escrever tem me trazido muito pra dentro
Ler demais também tem me deixado menos esperançosa
Faltando fé dessas fortes, nas flores, no sol, nas estrelas
Por mais que acredite, falta, falta muita Fé com letra maiúscula
Está minúscula, quase microscópica
Lamparina apagando aos poucos
Mudando de assunto
Agora mesmo acabei lendo sobre a vida nada glamourosa de um escritor
E sem querer ser já sendo o que queria ser sem nunca ter sido
Fiquei muito em dúvida se quero isso mesmo pra mim
Porque é difícil pra cacete
Dá pra passar fome
no Brasil então?
Diga-me que profissão está dando dinheiro?
De ladrão não vale
Ah!
Desculpem
Estou realmente melancólica
Escrever requer muita dedicação, esforço e lágrima
Então?
Quer mesmo escrever Renata?
Está disposta a passar por isso?
Você sempre desiste
Essa voz insiste, cale
Já me imagino aquela mulher solitária com uns dois gatos me fazendo companhia em noites frias com uma coisa qualquer na mão escrevendo coisas sem sentido
Então?
Quer mesmo escrever?
Já estou oras
Mas sem fim social, sem cobrança, sem pactos e alianças
Assim mesmo
Independente
Algo inédito em minha vida já que sempre tive que pedir benção pra tudo
Sobretudo pra essas coisas do coração
E escrevo pra exorcizar
Curar esse fatigado corpo que extrapola dentro
Sou péssima escritora!
O crítico falaria a mesma coisa
Descobri isso há tempos, mas agora que me li tenho coragem de admitir
Parar de fingir
Mas fodas, com o perdão da palavra foda-se o crítico
Que saco!
Tô me sentindo cobrada, vigiada, observada e julgada
Já me cobro o suficiente
Escrever é para ser música, circo, palco de ilusão
Somente
Estou quase uma adolescente mimada que já pensa em jogar a toalha por causa de um maldito crítico
Ah!
Não quero fazer parte disso
Não vou
Decidido
Muita gente vai gostar…
Na verdade preferiam que eu passasse num concurso qualquer
Entendo, mas também não vou
Não mais, na verdade nunca quis
Jaulas
Sempre caio em jaulas
Vou continuar advogando causas possíveis e impossíveis, pois eh isso que faço pra ganhar dinheiro, essa mola que move o mundo
Imundo por sinal
Então fodas
Joguei a toalha
Não sou escritora Sr. Crítico
Seria ousada demais essa pretensão
Dela abro mão
Mesmo
Sou uma pessoa então, posso?
Qualquer
Humana
Mundana
Imperfeita
A angústia, se era passou
A melancolia, essa é uma parte minha
Aceito
Meio sem jeito, mas aceito
Tá no peito
A menopausa pode estar chegando também, seria amém
E crítico eu vou escrever no dia e hora que me der na telha, não vou participar de eventos literários, nem vender minha alma ao diabo
Cada coisa que descobri em tão pouco tempo…
Passe bem
Boa sorte Senhoras e Senhores Escritores, inventores de sonhos e ilusões
Admiro a coragem de vocês
Precisa
Essa tem me falhado ultimamente
Ass: pessoa que tem vontade mesmo é de ser balão lotado de coração
Decidido: sou um balão que escreve de graça por graça
Fome? Já estou passando
Há tempos
Não dessas de comida
Se é que me entendem
Escrever tem sido meu único alimento
Lamento decepcionar os críticos, mas vou continuar
dançando
sonhando
amando
escrevendo
Renata, admiro a sua crônica. Partilho do mesmo sentimento. A liberdade de escrever sobre o que quiser e o que lhe apetecer, sem “jogos de ilusões” que nos acabam por domesticar a nossa criatividade, se bem entendi.
Foi um bom post.
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Entendeu bem sim Irina. Talvez melhor que eu! Bom saber que compartilho contigo o mesmo sentimento. Já não estou só nesse barco. Obrigada. 🙂
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Não, não é. Siga quem é. Os outros “criticos” que tenham suas ideias, eles não são os seus pensamentos nem os controlam 😉
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Continue se alimentando das palavras e enriquecendo nossas almas com elas
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Muito obrigada pelo incentivo Estevam! 🙂
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Não há de que… o incentivo é mútuo…
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“Minha cor preferida não tem me alegrado como antes”, que verso poderoso, Renata, que diálogo consigo mesmo … Sobre o assunto, recomendo uma poesia do mexicano Jaime Sabines, “O pedestre” (“El peatón”). Gostei muito de conhecer o seu blog e admirei mais o seu seguimento. Abraço de Villahermosa…
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Muito obrigada Alejandro! Vou procurar pela poesia. Valeu demais pela sua dica e é um prazer ter seguidores como você. Abraços. 🙂
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